Música alta para um sistema de recompensa em baixa
Será que tem relação entre a música ensurdecedora ouvida pelos adolescentes e o sistema de recompensa? A Dra. Suzana (2013) mostra que sim:
“A resposta estaria, claro, no sistema de recompensa – mas também numa estrutura do ouvido interno evolutivamente antiga: o órgão vestibular. No ser humano, há muito se acreditava que o órgão vestibular, uma estrutura vizinha à cóclea (que é a parte auditiva do ouvido), não teria qualquer função auditiva. Consulte qualquer livro didático e você verá que o órgão vestibular serviria somente para detectar a posição e movimentos da cabeça, e, portanto, teria uma função importante apenas para a manutenção do equilíbrio. Faz sentido; quem já teve labirintite, uma inflamação do órgão vestibular, sabe o quanto é difícil ficar parado em pé quando o sentido do equilíbrio está perturbado. No entanto, em peixes, sapos, e primatas não-humanos, o órgão vestibular tem sabidamente também uma função auditiva. Nesses animais, é o órgão vestibular que detecta ensurdecedores chamados de acasalamento (quem já teve a oportunidade de dormir perto de um lago sabe como o namoro dos sapos pode ser barulhento!). Além disso, é bastante provável que os sinais vestibulares sejam encaminhados diretamente ao sistema de recompensa, e há indicações anatômicas para tanto. Isso sugere que os ruidosos chamados de acasalamento provocam uma sensação prazerosa nos animais que os ouvem através do órgão vestibular – e também explicaria por que montanhas-russas, bungee jumps, alta velocidade e balanços, que provocam sensações vestibulares fortes devido à aceleração intensa, são tão apreciados por alguns. Aliás, o prazer infantil de ser ninado num colo balançante também deve ter suas origens nessa ligação privilegiada entre o órgão vestibular e o sistema de recompensa”. (HERCULANO-HOUZEL, 2013, p. 70)
“(…) o órgão vestibular humano é, sim, capaz de responder também a sons – desde que eles sejam graves e fortes o suficiente (…) Nosso órgão vestibular responde, como esperado, a
movimentos da cabeça, mas também a sons entre 100 e 200 Hz (como o baixo e o surdo da bateria) e muito intensos, entre 90 e 110 dB (o equivalente a um secador de cabelo ligado no máximo ao lado do seu ouvido) – exatamente como o rock’n’roll e a música techno em bares e festas rave. Se fortes o suficiente, essas músicas devem provocar ativação não-auditiva do sistema de recompensa por pegarem carona no órgão vestibular. E algumas pessoas (muitas delas adolescentes) de fato acham esses sons prazerosos (…) curiosamente, quem gosta de um bom bate-estacas também gosta da sensação de se balançar, o que corrobora a hipótese de estimulação vestibular do sistema de recompensa”. (HERCULANO-HOUZEL, 2013, p. 70-71)
A música ensurdecedora e o cérebro adolescente
“E por que o prazer da música ensurdecedora seria característica dos adolescentes? A preferência pode estar associada à sensibilidade diminuída do sistema de recompensa nessa idade. O prazer que cada um de nós obtém com uma música muda conforme o seu volume, mas não de uma forma linear. O volume “ideal” de cada um para ouvir música segue uma curva em forma de dedal: não pode ser baixo demais, e precisa ser alto suficiente para agradar – mas também não deve ser alto demais. Talvez, com a sensibilidade do sistema de recompensa diminuída, seja necessário um som mais intenso do que antes para levar ao prazer vestibular da música – e assim a definição de “alto demais” mude temporariamente. É claro que fatores culturais também podem ajudar; se a norma é ouvir música aos berros, qual adolescente ousará dizer ao seu grupo que “prefere baixinho”? Mas além disso, é possível que a música alta seja especialmente preferida por aqueles que, por razões genéticas, são donos de um sistema particularmente insensível, e assim precisariam de volume mais alto para conseguir prazer vestibular”. (HERCULANO-HOUZEL, 2013, p. 71)
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Pedagoga e Psicopedagoga Clínica
Comecei minha carreira de atendimentos em 2012
Hoje atuo também como Supervisora Clínica
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